sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Da grandeza das coisas:


O nó do ser/estar
Em mim é grande

Pois sou grande
Embora pequeno no mundo

Um buraco estreito e profundo
Um abismo sem chão
Pupila muda e em vão

Aliás, o mundo que é pequeno em mim

E além de nó
Há feixe indeterminado

Sem dia
Sem noite

Sem sabor nem contorno
Quem dirá conteúdo

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Sobre o modo - o determinista:

Ando às vezes convicto de que o modo de falar, o modo de vestir, o modo de se referir ou o modo de agir cordialmente implica em nada nas crenças básicas de um indivíduo.

Na minha convicção estranha, a opção por um desses "modos" segue de um impulso estético arbitrário/compulsório. E, esses impulsos, que nos indicam "modos" a todo instante , sequer envolvem qualquer caracter intrínseco nosso, como indivíduos (além do caracter de sermos passíveis de impulsos).

Inclusive, me arrisco a dizer que a "aparência" dos caracteres intrínsecos de um indivíduo e de outro são muito mais próximas entre si que a dos modos, ou seja, que indivíduos são muito semelhantes a outros, ao contrário do que os modos continuamente indicam.


Daí, fica a mensagem: Quando proferires críticas ásperas aos "modos" dos outros, cuidado! Podes estar falando de alguém muito semelhante a ti, que em um determinado momento se deparou com um impulso diferente do teu, mas que na base é exatamente como tú és, e quem sabe acredita nas mesmas coisas. Esqueça os "modos" um pouco!

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Delírios (ora nem tanto, ora excessivamente) metafísicos:




O que proponho é relativamente simples. É que o panorama -qualquer que seja-, antes de ser panorama, é "panorama poético".

O que reconheço aqui (pelo menos aqui) é que qualquer coisa, antes de emergir objetivamente, e trazer consigo inúmeras perspectivas, já é um bosquejo poético.


Não sou poeta, no sentido usual do termo, e nem pretendo ser por incompetência da minha parte. Talvez eu confunda as bolas (e ainda confunda quem lê essas coisas), pois a prosa surge com música na minha cabeça. Aí, pretende ser poesia e acaba ficando por ali, indecisa, incompleta. Não sei se posso afirmar que ela é verdadeira, mas o momento que ela pretende transmitir é verdadeiro (isso ainda posso afirmar).


Às vezes, prefiro mesmo a beleza do argumento na prosa, com certa elegância e rigor matemático. Também, as vezes, reconheço beleza no não-rigoroso; na ambigüidade e na confusão. Ou, dessas formas todas combinadas. Até em caricaturas vejo beleza. Ah! quer saber?! a minha inclinação é pela beleza das coisas, independente de forma e conteúdo!










Delírios metafísicos:


Arranquei a superfície,
e não há
qualquer coisa vaga.

Até o nada (é) não-vago,
e o que há
é significado.

-que para o vento,
a guerra, o movimento-
que não para o sentir-dor.

sábado, 9 de agosto de 2008

Poesia de Púchkin:




ELEGIA


Dos anos loucos a alegria extinta,
Ressaca vaga, faz que eu mal me sinta.
Mas, como o vinho, é o remorso meu
Que mais forte ficou, se envelheceu.
É triste minha estrada. E me anuncia
O mar ruim do porvir dor e agonia.


Mas não desejo, amigos meu, morrer;
Quero ser para pensar e sofrer.
E sei que há gozos para mim guardados
Entre aflições, desgostos e cuidados:
Inda a concórdia poderei cantar,
Sobre prantos fingidos triunfar,
E talvez com sorrir de despedida
Brilhe o amor no sol-pôr de minha vida.


Aleksandr Púchkin (1830) - tradução de José casado.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Alexandre_S._Pushkin - (breve biografia do poeta russo)

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Olhos


Olhos, pra quê?
se não são para ver...

Pois são para sentir,
confundir e não-permanecer.

Sutis olhos!

Enganam, comovem,
desviam e simulam.
Dissimulam o que apreendem.
Compreendem!

Compreendem?

Encenam figuras,
ilusões a esmo.
Transmitem beleza óbvia e concreta.

No delinear incessante de superfícies
sufocantemente comoventes,
ofuscam o ser.

Sabe-se lá pra quê, afinal?

Panorama poético:

Talvez o termo não seja o mais adequado quanto à precisão do significado. Está aí, justamente pela simpatia do autor com a musicalidade, com a ambigüidade e com a amplitude da acepção do termo. A idéia não é transmitir obscuridades com pouco propósito, ou incitar mistérios gratuitamente, mas também não é de livrar-se deles no todo. Tampouco, estabelecer visão absolutamente crítica de qualquer coisa.

“Panorama poético” propõe uma base poética na compreensão das coisas. Um pano de fundo, que perpassa experiências e as determina de alguma forma.
Espontâneo, condicionado, reto, flexível, trágico, otimista. Atributos, que combinados com outros, em conjunto, encerram um panorama possível, um todo estabelecido e visto de fora. A pretensão aqui não é favorecer quaisquer panoramas, mas justamente transitar sobre os possíveis conforme a conveniência.

domingo, 3 de agosto de 2008

Circulando pelo óbvio



Descrente do óbvio,
Vivo a dar-me conta das coisas,
a querer desvelá-las.
E, na busca de deixar nus,
bem e mal,
ser e não-ser,
acabo por despir a mim mesmo.

Assim, finjo que paro,
esqueço que há futuro.
esqueço que há.
E, mergulhado no esquecimento,
num lapso do movimento,
dou-me conta novamente,
do óbvio, agora crente.