sábado, 9 de agosto de 2008

Poesia de Púchkin:




ELEGIA


Dos anos loucos a alegria extinta,
Ressaca vaga, faz que eu mal me sinta.
Mas, como o vinho, é o remorso meu
Que mais forte ficou, se envelheceu.
É triste minha estrada. E me anuncia
O mar ruim do porvir dor e agonia.


Mas não desejo, amigos meu, morrer;
Quero ser para pensar e sofrer.
E sei que há gozos para mim guardados
Entre aflições, desgostos e cuidados:
Inda a concórdia poderei cantar,
Sobre prantos fingidos triunfar,
E talvez com sorrir de despedida
Brilhe o amor no sol-pôr de minha vida.


Aleksandr Púchkin (1830) - tradução de José casado.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Alexandre_S._Pushkin - (breve biografia do poeta russo)

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Olhos


Olhos, pra quê?
se não são para ver...

Pois são para sentir,
confundir e não-permanecer.

Sutis olhos!

Enganam, comovem,
desviam e simulam.
Dissimulam o que apreendem.
Compreendem!

Compreendem?

Encenam figuras,
ilusões a esmo.
Transmitem beleza óbvia e concreta.

No delinear incessante de superfícies
sufocantemente comoventes,
ofuscam o ser.

Sabe-se lá pra quê, afinal?

Panorama poético:

Talvez o termo não seja o mais adequado quanto à precisão do significado. Está aí, justamente pela simpatia do autor com a musicalidade, com a ambigüidade e com a amplitude da acepção do termo. A idéia não é transmitir obscuridades com pouco propósito, ou incitar mistérios gratuitamente, mas também não é de livrar-se deles no todo. Tampouco, estabelecer visão absolutamente crítica de qualquer coisa.

“Panorama poético” propõe uma base poética na compreensão das coisas. Um pano de fundo, que perpassa experiências e as determina de alguma forma.
Espontâneo, condicionado, reto, flexível, trágico, otimista. Atributos, que combinados com outros, em conjunto, encerram um panorama possível, um todo estabelecido e visto de fora. A pretensão aqui não é favorecer quaisquer panoramas, mas justamente transitar sobre os possíveis conforme a conveniência.

domingo, 3 de agosto de 2008

Circulando pelo óbvio



Descrente do óbvio,
Vivo a dar-me conta das coisas,
a querer desvelá-las.
E, na busca de deixar nus,
bem e mal,
ser e não-ser,
acabo por despir a mim mesmo.

Assim, finjo que paro,
esqueço que há futuro.
esqueço que há.
E, mergulhado no esquecimento,
num lapso do movimento,
dou-me conta novamente,
do óbvio, agora crente.